quarta-feira, 16 de julho de 2014

A INCLUSÃO DO PEDRINHO NA EMEF ARACY BARRETO SACCHIS.


 
 
A INCLUSÃO DO PEDRINHO NA EMEF ARACY BARRETO SACCHIS.
                                                                              Lisete Maria Massulini Pigatto[1]
                                                                              Lucia Carrion[2]
                                                                               Nara Ferreira[3]
 
                    No Brasil, os pressupostos filosóficos da Politica de Educação Inclusiva compreendem a escola como uma organização voltada para todos. Uma instituição que tem competência para reconhecer os direitos e deveres, respeitar e valorizar a diversidade humana neste paradigma inclusivo que impulsiona as pessoas a viver e a conviver numa nova concepção de ensinar e aprender sem qualquer restrição.
      Na Cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil se desenvolve uma experiência educacional ousada e inovadora na EMEF Aracy Barreto Sacchis no intuito de favorecer a aprendizagem, eliminar barreiras, a discriminação, oportunizar uma vida mais saudável e feliz a todos os alunos envolvidos no processo inclusivo. O trabalho vem sendo realizado em abdocência, num consórcio entre Gestores, Professores, Educadora Especial e demais para melhorar a qualidade na educação.
       O trabalho surge a partir da realidade encontrada na escola que tem índice no IDEB de 2011- 6.4, um crescimento de 31% e evasão escolar zero. Porem há infrequência dos alunos no AEE – Atendimento Educacional Especializado no turno inverso, a negação da deficiência por parte destes alunos e muita pobreza devido há falta de informações e conhecimentos para exercitar a cidadania.
       Neste contexto se começa a pensar a inclusão escolar e social de forma diferenciada, porque os alunos do AEE não podem permanecer na instituição sem um acompanhamento e o devido acesso ao saber fundamental para a sua formação.  A partir desta proposta se desenvolve na escola este trabalho que tem como objetivo favorecer o desenvolvimento da socialização, da aprendizagem e da cidadania de forma alternativa e interativa, numa dinâmica alegre, lúdica, recreativa e sistematizada para que possam aprender a viver e a conviver de forma saudável.
        Organiza-se a partir do calendário da escola por meio de um planejamento anual organizado pela Professora da sala de aula, pelo Projeto das Especializadas que conta com aulas de Artes, Educação Física, Informática, Inglês; pelo Projeto Recreação e Cidadania, desenvolvido pela Educadora Especial, o qual é mediado pelas ações e atividades educativas para que alcancem os objetivos.
        A dinâmica alegre e divertida das propostas favorece o aprender brincando, porque se acredita que ao impactar ações de mediação, instiga-se o aluno a aprender. A exercitar a cidadania, fundamentada no Princípio da Dignidade Humana, artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal e o Princípio da Isonomia conforme o artigo 5º da Constituição Federal para obter uma educação de qualidade.
         Em caráter complementar a Educação Especial faz parte da proposta pedagógica da escola, favorece o atendimento aos alunos do AEE com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento ou transtorno do expecto autista e altas habilidades/superdotação. Atua também de forma articulada com o ensino comum nos casos de alunos com transtornos funcionais específicos orientando-os.
           Neste sentido a proposta desenvolve-se de acordo com a Política Nacional de Educação Especial e os Parâmetros Curriculares Nacionais onde os temas transversais circulam pela estrutura dos conteúdos curriculares. No intuito de que os alunos desenvolvam as habilidades necessárias para participar no sistema democrático com autonomia, possam aprender a ter as coisas e ser mais feliz.                                     O relato da experiência educativa demonstra o processo de inclusão escolar e social do aluno Pedrinho de 10 anos, incluso na turma 31, no 3º ano do Ensino Fundamental da Professora Terezinha na EMEF Aracy Barreto Sacchis.
         Justifica-se o estudo e a sua divulgação por ser um processo de inclusão escolar e social inovador que apresenta resultados significativos. O AEE consta no Projeto Politico Pedagógico da escola e se torna uma peça fundamental no desenvolvimento não apenas dos especiais, mas de todos os alunos. Fundamenta-se no Decreto Lei 7611/2011, o qual prevê um atendimento complementar e suplementar ao aluno do AEE no sistema público de ensino.
          O Decreto Lei 7611/2011, no seu artigo 2º prevê que a [...] “Educação Especial deve garantir os serviços de apoio especializado voltado a eliminar as barreiras que possam obstruir o processo de escolarização de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.” No 1º § compreende o serviço do Atendimento Educacional Especializado como um conjunto atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos a serem organizados institucional e continuamente prestados das seguintes formas: I – Complementar a formação dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, como apoio permanente e limitado no tempo e na frequência dos estudantes às salas de recursos multifuncionais ou  II – Suplementar a formação de estudantes com altas habilidades ou superdotação.
        Razões estas de ordem legal, teórica e pratica tornando viável há realização desta experiência pedagógica. A originalidade do tema e a sua atualidade no contexto social indicam a sua importância e servem como uma sugestão as escolas que estão implementando a inclusão escolar e social dos alunos no AEE.
        O Estudo de Caso do aluno Pedrinho apresenta uma evolução significativa, merece ser conhecido e divulgado pelos avanços que vem apresentando na escola e na comunidade. Neste sentido se questiona:
       - A evolução do aluno se deve ao contexto educacional diversificado?          
        Acredita-se que sim pois trata-se de um modelo bem sucedido capaz de trazer valiosas contribuições ao debate científico e nos processos educacionais inclusivos. A proposta contempla várias áreas e se destaca devido a sua importância social, econômica e politica. Sendo capaz de desenvolver recursos didáticos e pedagógicos e de eliminar as barreiras no processo de ensino aprendizagem para que os alunos consigam viver e conviver com a diversidade de forma saudável.

1.    A Fundamentação Legal Inclusiva

 
        A Declaração de Salamanca (1994) no intuito de favorecer a inclusão aponta as escolas regulares com orientação inclusiva como os meios mais eficazes para combater atitudes discriminatórias e que alunos com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular com o princípio orientador de que [...] “as escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras” (BRASIL, 2006, p.330). Para que tivessem a oportunidade de conviver juntas.
        A Constituição Federal de 1988 traz no seu bojo um dos objetivos fundamentais [...] “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º, inciso IV). Define, no artigo 205 a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu artigo 206, inciso I, estabelece a [...] “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e aponta como dever do Estado o atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208). Para que estas crianças tenham educação.
       O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº 8.069/90, no artigo 55, reforça os dispositivos legais supracitados ao determinar que [...] “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino”. A Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994) passam a influenciar as políticas públicas da educação inclusiva.
      O Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001, aponta à construção de escolas inclusivas que garantam atendimento à diversidade humana. Ao estabelecer objetivos e metas aos sistemas de ensino aponta um déficit referente à oferta de matrículas aos alunos com deficiência no ensino regular, à formação docente, à acessibilidade física e atendimento educacional especializado. Aprimorando a proposta com a Politica de Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva na Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007.
        

2.    Descrição da Experiência: O Caso Pedrinho

         
                    Pedrinho é filho de Joao e Maria, mora com a mãe, o padrasto, a vó e uma irmã filha do segundo casamento. Nasceu de cesariana porque já tinha passado do tempo e havia tomado a agua da placenta. Quando tinha 18 meses seu avô materno faleceu e assim começou a falar sozinho. Frequenta a psicóloga desde os três anos em função do contexto: o pai foi preso por tráfico de drogas e a mãe teve que pedir uma medida protetiva devido à aproximação deste com o filho.
         O aluno veio transferido da Escola Municipal Oscar Grau no inicio de maio de 2012 para o 1º ano com suspeita de autismo. Agitado, não conseguia ficar na sala de aula e ao ser contrariado batia nos colegas, na professora e nos funcionários. Gradativamente vem melhorando o seu desempenho escolar, porem apresenta um comportamento agressivo que seguidamente volta a se manifestar.
          Atualmente frequenta o 3º ano do ensino fundamental e apresenta um bom potencial para aprender mesmo com déficit intelectual. Na área cognitiva manifesta dificuldades na fala e na compreensão, na atenção e concentração para realizar as atividades propostas. Encontra-se na fase da garatuja, escreve quando tem vontade em forma de riscos e rabisco, não reconhece letras e números. O vocabulário é restrito a linguagem confusa, fala rápido conosco e com tranquilidade com o seu amigo imaginário. Quando se acalma conseguimos entende-lo melhor.
          Na área afetiva relaciona-se bem com os colegas e as professoras, sorri quando elogiado porem não gosta de ser contrariado. Não consegue lidar com a frustração e o tempo emocional é restrito. Geralmente após o recreio fica agitado e agressivo, demonstra cansaço, grita, recusa-se a ficar na sala de aula, chuta o que estiver na frente, derruba o material, sente dores na cabeça e pede para ir embora. 
          O seu desenvolvimento motor é normal, participa como ajudante da professora com entusiasmo e rapidez. O seu crescimento se evidencia na parte social, nas aulas de educação física já consegue compreender e participar das atividades lúdicas dirigidas. Percebe o universo da sala de aula, tem noção de que não pode sair a toda hora e que deve prestar atenção quando alguém está falando.
          Adora participar das atividades realizadas com o Projeto Recreação e Cidadania, principalmente quando diz respeito às apresentações do Teatro Musical. Participa como o Palhaço Pirulito, um personagem que criou e desenvolve na sala de apoio. Adora o palco, sente necessidade de ser visto, nas apresentações tem o desempenho de uma criança considerada normal, isso faz bem a sua autoestima.
          Apresenta uma deficiência intelectual evidente, tem como diagnóstico CID 10 F.90.0. Hiperatividade, impulsividade, com um comportamento alterado e calmaria. Faz uso diário de meio comprimido de Respiridona e Ritalina.  Atualmente está bem pelo trabalho desenvolvido na escola com o Projeto das Especializadas e o Projeto Recreação e Cidadania que se desenvolve semanalmente na sala de aula com todos os alunos e na sala de apoio de forma individual ou em pequenos grupos.
      Na coleta de informações sobre a evolução do aluno se constatou que:
      Para a Professora Terezinha, Pedrinho é um aluno quieto, costuma ficar na classe brincando com jogos. Quando incomodado se irrita, chora e pede para ir para casa. Recusa-se a recortar, pintar, desenhar, mas participa da contagem de estórias e nas apresentações na aula, na Feira do Livro e no Mobrec normalmente.
      Na opinião da Professora Lucia, Pedrinho participa das aulas de Educação artística de forma alegre e criativa. Interage com os colegas dinamicamente, tem se mostrado envolvido e interessado agindo normalmente.
      Segundo a Professora Roseane o Pedrinho é um aluno que participa das aulas de Educação Física com entusiasmo, vontade e atenção. Há três anos que o acompanha e percebe que o seu crescimento principal se dá na parte motora. Realiza as atividades e possui uma coordenação motora ampla e fina excelente. Tem noção de tempo e espaço, agilidade, equilíbrio e ritmo. Compreende bem as regras, sabe esperar a sua vez para realizar as atividades quando necessário.
   Na opinião do Monitor William o aluno costuma ser muito carinhoso com os colegas e professores. Muito organizado e criativo depois de brincar adora arrumar a sala de aula. Inicialmente sua preferencia era por brinquedos simples, agora se voltam aos específicos, aos didáticos como quebra-cabeça de frutas fracionado.               
      As manifestações da Diretora Nara são de alegria e de dever cumprido. Quando Pedrinho chegou à escola tinha dificuldade no relacionamento. Apresentava um comportamento explosivo e não controlava suas emoções: agredia os colegas, deitava na classe, engatinhava, jogava o material fora, reagia de forma agressiva ao ouvir o não. Para entender os combinados, os limites do certo e errado foi muito difícil. Apesar da dificuldade na comunicação oral e por não estar alfabetizado gosta muito de cantar e participar com os colegas. Já respeita as regras na sala de aula, contribui com um ambiente calmo, respeita os colegas e demonstra muita alegria.   

 

       Considerações Finais

 

        Na opinião dos educadores percebe-se que a experiência na escola com o palco foi muito significativa à sua evolução. O desenvolvimento das atividades realizadas pelos professores foi fundamental neste processo como as que envolvem a força física a ginastica e a dança. Torcedor do Brasil costuma reproduzir nas brincadeiras o que vivencia com satisfação. O aluno já consegue sorrir, feliz demonstra emoções e sentimentos nas suas atitudes com os colegas e professores.

         Na sala de apoio viaja pelo mapa do Brasil, sonha e reproduz o que enxerga: faz churrasco, joga bola vira o palhaço pirulito e comanda o circo. Transforma-se em mecânico, motorista, cobrador de ônibus, pedreiro e outros profissionais sempre lidando com dinheiro. Manifesta uma boa liderança, se faz entender pela fala e na maioria das vezes por meio de gestos. Tem alguns amigos imaginários com quem brinca e está conquistando a cidadania com autonomia.

       Constata-se que a evolução do aluno se deve a todo este contexto educacional diversificado organizado e vivenciado na escola com a Educação Fiscal e a Educação para o Transito conforme anexo. A partir das dinâmicas desenvolvidas conseguiu melhorar a comunicação e o comportamento pois estas contemplam os interesses, as potencialidades e suas necessidades. Diariamente estimula-se a socialização, motiva-se a aprendizagem e se oportuniza o exercício da cidadania com autonomia. Na escola estamos muito felizes porque conseguimos de forma conjunta instigar a sua inclusão na escola e na sociedade de forma saudável. 

       

 

           Referencias

 

 

CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.  Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm  Acesso 21/06/2014.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm  Acesso 21/06/2014.

DECRETO-LEI 7611/2011 EDUCAÇÃO ESPECIAL – AEE. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7611.htm  Acesso 15/06/2014.

PLANO NACIONAL DA EDUCAÇÃO Disponível em:  http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=16478&Itemid=110 Acesso 21/06/2014.

POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/politica.pdf    Acesso 20/06/2014.

 

 



[1] Lisete Maria Massulini Pigatto - Educadora Especial – Projeto Recreação e Cidadania.
[2] Lucia Carrion - Artes; Roseane S. Mendonça – Educação Física;Aline D. Cavalheiro – Informática; Angela C. Vasconcellos – Inglês – Projeto das Especializadas.
[3] Nara Ferreira – Diretora da Escola.
http://www.aee2010.ufc.br/aee/cursos/aplic/index.php?cod_curso=198